domingo, 11 de junho de 2017

Clarice Lispector


                 A hora da estrela




Ilustração da capa do livro "A Hora da Estrela" feita por Flor Opazo para a Editora Rocco Ltda. Foto: divulgação




Olá, pessoas!

No último dia 02/06, o grupo “Além da Leitura” discutiu em seu encontro o livro “A hora da estrela” (1977), de Clarice Lispector. Obra que conta a história da alagoana Macabéa contada passo a passo pelo escritor Rodrigo S.M., alter - ego da própria Clarice Lispector, de um modo que permite aos leitores buscar acompanhar o seu processo de criação.
A nossa convidada especial para esse encontro foi a professora Maria Eleuda de Carvalho, doutora em Literatura Brasileira e docente no curso de Letras da Universidade Federal do Tocantins, Câmpus  de Araguaína.
Primeiramente, a nossa convidada nos falou um pouco das suas opiniões sobre a obra “A hora da estrela’’, pontuando o que esta obra representava para  ela. Para o debate no grupo, era a terceira vez que a convidada se reencontrava com esta obra.
Nessa releitura, a convidada destacou que “A hora da estrela” é permeada de musicalidade em grande medida. Tanto que o fragmento selecionado pela convidada encontra-se na dedicatória da obra. Além  disso, a convidada destacou  algumas características, tais como: 

  • "Deboche” da autora em desdenhar da sua própria obra;
  •     A musicalidade dentro da dedicatória;
  •     Indecibilidade. 







 “Pois dedico esta coisa aí ao antigo Schumann e sua doce Clara que são hoje ossos, ai de nós. Dedico-me a cor rubra e escarlate como o meu sangue de homem em plena idade e portanto  dedico-me a meu sangue. Dedico-me sobre tudo aos gnomos, anões, sílfides e ninfas que me habitam a vida. Dedico-me à saudade de minha antiga pobreza ,quando tudo era mais sóbrio e digno e eu nunca havia comido lagosta. Dedico-me  à tempestade de Beethoven. À vibração das cores  neutras de Bach. A Chopin que me amolece os ossos. A Stravinsky que me espantou e com quem voei em fogo. À “Morte e Transfiguração”, em que Richard Strauss me revela um destino ?  Sobretudo dedico- me às vésperas de hoje e a hoje , ao transparente véu de Debussy, a Marlos  Nobre, a Prokofiev, a Carl Orff, a Schoönberg, aos dodecafônicos , aos gritos rascantes dos eletrônicos.”

No decorrer da discussão, a convidada e outros membros do grupo fizeram  alusão a outros textos literários, como “O espelho” e  “ A teoria do medalhão”, de Machado de Assis. A convidada também notou um elenco de títulos que estão na própria obra  ( A hora da estrela). Sendo alguns presentes na história como frases. A professora Eleuda fez menção a esse elenco de 12 títulos para marcar a sua “chave-de-leitura” para a obra em questão que é a:“indecibilidade”.
 Após uma série de diálogos e interlocuções, o grupo  foi demostrando, a partir de fragmentos da obra, como “ A hora da estrela” foi afetando o percurso de leitura de cada membro, que foi sendo partilhado de forma deleitosa.


Fragmentos da obra  “ A hora da estrela” , para apreciação dos leitores.


“ Ela sabia o que era desejo – embora não soubesse que sabia.
Era assim: ficava faminta mas  não de comida, era um gosto meio doloroso, que subia do baixo ventre e arrepiava o bico dos seios e os braços vazios sem abraço. Tornava-se toda dramática e viver  doía. Ficava então meio nervosa e Glória  dava água com açúcar.”


Macabéa - “ Nascera inteiramente raquítica, herança do sertão – os maus antecedentes de que falei.Com dois anos de idade lhe havia morrido os pais de febre ruim no sertão de Alagoas, lá onde o diabo perdera as botas.
Muito depois fora para Maceió com a tia beata,  única parenta sua no mundo.”  

“ Ela estava enfim livre de si e de nós. Não vos assusteis, morrer é um instante , passa logo , eu sei porque acabo de morrer com a moça.
Desculpai-me  essa morte”

Esperamos que vocês tenham apreciado os pontos desse encontro.
     


                                                                                                                   Grupo Além da Leitura.



 



10 comentários:

  1. Parabéns pra nós pessoas e que nunca desistamos dessa mais nova caminhada.

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  2. A Macabéa é uma personagem que me fez refletir sobre minha propria vida. Além do arrebatador estilo de escrita de Lispector, com suas verdades verdadeiras demais para que nós, os comuns, tenhamos coragem de dizer em voz alta, senti o eu, o outro, o social, o capitalismo, a anulação dos sujeitos, além de mil outras coisas. Enfim, com a Hora da Estrela a gente chega às últimas palavras de Luspector Macabéa.

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    1. Eu concordo com você. Ao ler essa obra, fico impressionado como a Lispector trabalhou a (des)construção do típico perfil de heroína por meio de uma personagem tão forte. Além do deboche e metalinguagem tão presente na obra como um todo.

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    2. Parabens tds ficou bom,clarice lispector e uma otima autora eu gosto das suas obras sempre com um ar de duvida por traz.

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  3. Encontrei o link desse Blog por acaso. Ainda não li esse livro mas,agora estou curiosa porque sei o quanto a Clarice Lispector trabalha o íntimo dos "indivíduos", "cosendo de dentro para fora." Parabéns!!!

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  4. Encontrei o link desse Blog por acaso. Ainda não li esse livro mas,agora estou curiosa porque sei o quanto a Clarice Lispector trabalha o íntimo dos "indivíduos", "cosendo de dentro para fora." Parabéns!!!

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  5. Parabéns,acadêmicos de Letras.
    O projeto é muito interessante e usarei alguns desses pontos para discutir com meus alunos e colegas.

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  6. O estilo da Lispector é marcado pela inovação.Os textos colocam em foco o inconsciente,na literatura da escritora os sentimentos e sensações dos personagens são muito importantes.Sempre com indivíduos cheios de questionamentos e expressividade.

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  7. Este comentário foi removido pelo autor.

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  8. Senti que Clarice quis ser a autora de sua história. Ela era a Macabea.

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